domingo, 14 de junho de 2009

Que saudade!

Alguns anos já se passaram desde a minha Primeira Comunhão... lembrei-me disso poque hoje fui à missa de Primeia Comunhão de um afilhado (Estou envelhecendo mesmo!) e tentei me lembrar de como foi a minha... e quase nada me veio à memória, se considerarmos a importância do evento na vida da criança.
Conversando com uma amiga que se sentou ao meu lado, lembramos de nossas roupas da Primeira Comunhão... horrorosaaaas! Muito ruins mesmo! Seria muito mais interessante se fossem como as de hoje, uma espécie de batina branca, com direito a coroinha de flores, para as meninas, claro.
Olhando as crianças vestidinhas de branco sentadas lá na frente, lembrou-me o mal que passei pela demora da celebração, era verão, igreja lotada, a celebração já passava de duas horas e minha pressão baixa resolveu dar sinal... achei que ia desmaiar, mas consegui me segurar, graças à minha madrinha que trouxe um copo d'água.
Lembrei-me também do padre que celebrou, quer dizer, no meu caso, era um Frei, muito querido pela comunidade e que não vejo há anos... lembrando do Frei, me veio a confissão. Ele nos mandou escrever os pecados num pedaço de papel, imaginem isso! Eu, sentada num dos bancos, tímida que era aos dez anos de idade, achava aquilo ótimo, assim era mais fácil encarar o representante divino...
Mas a minha lembrança mais forte é do dia do ensaio da comunhão, dia em que as catequistas (da minha catequista não me lembro!) tentam "treinar" as crianças para que sejam comportadas, sigam os rituais da Santa Missa com exatidão e não as deixem envergonhadas diante da comunidade. A minha lembrança não é das músicas, dos ritos, e muito menos dos meus colegas (não me lembro de nenhum deles! Meu Deus que memória é essa??), mas de uma cena que nunca mais me esqueceu... eu sentada num dos bancos da Igreja, batendo os pés no chão de ansiosa que já era naquela época, resolvo olhar para trás... lá estava meu tio querido qu fora acompanhar o ensaio, meu tio Cacá, presença constante em cada momento da minha infância, talvez meu companheiro mais fiel, um dos meus amores mais fortes... e que papai do céu levou embora no ano seguinte!
Que saudade do meu tio!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sugestão de leitura

Sugiro que leiam A quinta história da Clarice Lispector, postado abaixo, antes de lerem a minha, visto que pretendi dar continuidade, ainda que muito humildemente,
ao texto da grande autora.

A (minha) quinta história


A quinta história chama-se “Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia”. Começa assim: queixei-me de baratas. E segue até o exato instante em que, vendo os monumentos de gesso, tenho certeza de que estão mortas. Porém, ao mesmo tempo, lembro-me de que estarão vivas nos canos da renovação, seguindo, em fila-indiana para novamente cumprir a saga. Assim, eu deveria mesmo renovar, ritualmente, aquele açúcar letal, todas as noites. E não conseguiria dormir enquanto não o fizesse. E mais que isso, estaria viciada em verificar a matança. Estremeci. Mas não de pensar no que primeiro me veio: que eu viveria, então, vida dupla, eu-mesma e eu-feiticeira, e sim de pensar que não há nada mais natural. Isso é o amor. Não, pensei, eu não estou louca. O amor é assim mesmo, duplo. Ambíguo. Alegórico, a melhor palavra. É por amor que ritualizamos as coisas: rezamos todas as noites por amor a Deus; por amor, passamos cremes e mais cremes antes de dormir. Senão por outra pessoa, por nós mesmos. É por amor que fazemos de nossas vidas dias cheios de ritos. De prece, de beleza, de sabedoria, de prazer... não importa de quê.

No entanto, como diria Leibnitz, a essência dos corpos não consiste na extensão, mas na força. Não eram importantes as baratas que transformei em estátuas, mas a força que me motivou o homicídio e que me faria me sentir melhor. E, pensando nelas, quem sabe não existe céu para as baratas? Aquelas, certamente, é para lá que vão, foram assassinadas fria e brutalmente, sem chance de defesa. Entretanto, não sou assassina, apenas alguém que ama mais a si mesma que às baratas. O ato sugere um assassinato, mas é uma forma de amor. A mim. E, otimistas, ainda como o filósofo, tudo vai da melhor forma no melhor dos mundos possíveis: no paraíso das baratinhas brutalmente assassinadas, elas descansam em paz, e eu, aqui em casa mesmo, apesar do rito, me alivio sem a presença delas.

Matar e amar. Matar por amor. Matar o amor?! Sim, penso, estou ficando louca. Matar alegoricamente. Filosoficamente amar. Era apenas uma forma de me livrar de baratas, sugestão de uma tal senhora que ouviu-me queixar, mas já estou quase resolvendo a questão da transcendência do amor na Polinésia...
Daniela Samira da Cruz Barros
"Não, meu coração não é maior que o mundo, é muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores, por isso gosto tanto de me contar!" (CDA)