Depois de doze anos, reunimo-nos ontem: as meninas da última turma do CFP/Senai. Nossa experiência no conhecido Senai da Rede Ferroviária Federal foi muito além da formação profissional, que, aliás, nenhuma de nós seguiu: somos professoras, bancárias, policiais, economistas... mas nenhuma mecânica, metalúrgica ou eletricista, certamente. As amizades que conquistamos nos três anos de Senai ficaram mesmo marcadas em nossa vida. Apesar de todo o tempo que passou, é como se soubéssemos tudo sobre as vidas umas das outras. Parece que somos íntimas tanto quanto éramos quando os nossos queridos amigos meninos nos trancaram no banheiro e jogaram a chave fora (Acreditem se quiser!) Inclusive as rivalidades se mantiveram, vez por outra é possível notar uma espetadinha aqui, um comentário maldoso ali... não tem jeito, somos humanas. E mulheres!
Uma novidade nesse encontro foi, sem dúvida, a criançada, em doze anos, são nove crianças, das quais, sete se fizeram presente. Isso significa que nesse tempo foram alguns casamentos... apenas duas de nós não se casaram e não tiveram filhos. E eu sou uma delas. Confesso que me senti uma estranha no ninho quando percebi que quase todas tinham seus maridos (E suas reclamações sobre o casamento, claro!) e seus filhos, lindos, por sinal, cada um refletindo uma coisa ou outra da mãe... fiquei meio deprê quando saí de lá.
Na verdade, não acho que eu esteja atrasada, escolhi outro caminho, que nenhuma delas seguiu, eu sei, talvez por isso eu tenha "ficado para trás". Mas não sei se foi esse sentimento de "eu podia ter uma rotina assim, mas não tenho" que me deixou meio melancólica. Foi exatamente o contrário, talvez a pergunta "será que eu quero ter uma vida assim algum dia?".
Vi pelo menos dois maridos "atrapalharem" nosso encontro, um acabou apressando o fim do encontro porque a mulher resolveu ir embora e "fechou a nossa conta", o outro chegou constrangendo a esposa por não concordar com o tratamento que ela dava ao filho, e ainda teve um outro que telefonou para perturbar. Ouvi uma dizer que já desistiu, às vezes tenta, mas ele não colabora, então acha difícil voltar a viver bem. Ouvi duas outras comentando que depois dos filhos o amor pelo marido parece diminuir e uma outra concordando e corrigindo: "parece, não, diminui, com certeza".
Complexo, como diria um amigo. Fiquei confusa. Não sei o que pensar sobre isso. Será que a minha melancolia é por qual motivo? Porque queria ter uma nova vida, com preocupações de esposa e mãe. Será que minha vida está muito vazia e teria mais sentido se eu tivesse um marido e filhos? Será que gosto de ser livre e poder fazer o que eu quiser sem me preocupar em cuidar de alguém? Será que quero me casar, ter filhos e depois achar que não tenho mais meu marido, mas somente o pai dos meus filhos ao meu lado? Será que quero nunca mais ter uma noite de sono tranquila porque estarei eternamente preocupada com as crianças, mesmo depois que elas tiverem suas vidas independentes? E será que colocar filhos nesse mundo tão injusto não seria puro egoísmo? Apenas para sustentar nosso ego, satisfazer nosso desejo de ser mãe?
Hummm. Difícil decisão. Mas, pelo menos por enquanto, acho que prefiro os vazios de vez em quando e a sensação de que nada faz sentido, a preocupação com meu trabalho ou com o doutorado, com malhação para manter o corpinho de 20, e com as baladas no fim de semana...
Quando uma das amigas me cobrou que estava na hora de providenciar o meu bebê, eu respondi que meu primeiro filho será minha tese, daqui a uns dois anos. E até lá, decido se entro para o rol ou não.
Por enquanto, fico conhecida como a encalhada da turma. Tudo bem, não me ofendo!