Ser ou não ser moderno: uma questão de eternidade
Daniela Samira da Cruz Barros
As denominações dadas às correntes literárias existentes parecem-nos apropriadas, visto que visam sintetizar as ideias propostas pelos autores da época ou, pelo menos, representar, da maneira que for, os estilos vigentes. Entretanto, uma dessas denominações parece destoar.
Ao misturar Literatura e cronologia, o Modernismo limitou as novas denominações surgidas posteriormente. É bastante claro que ao chamado “espírito de época” (Que pode ser traduzido como o sentimento comum da sociedade, o qual gerou tais manifestações artísticas.) se encaixava perfeitamente o termo “modernista”, os artistas queriam mesmo romper, efetivamente, com tudo que vinha sendo tradicionalmente pregado há anos, sugerindo modernizar a arte. Foi feito. Conseguiram. A Semana de Arte Moderna de 22, por exemplo, não poderia ter outro nome. Era mesmo uma nova arte, um “jeito” moderno de ver as coisas; tão moderno que causou muita repulsa – o novo sempre assusta e escandaliza. Daí a grande repercussão da Semana, garantindo a efetivação do caráter modernizador dos projetos ali apresentados.
Se aquela Literatura de 1922 era moderna, estamos fadados à prisão àqueles moldes? O Modernismo não é o grau máximo que algo pode atingir? Os autores, por exemplo, posteriores aos Andrades de 22, Drummond ou Vinícius de Moraes não são modernos?
A primeira relação que se pode traçar entre Modernismo e tudo o que vem depois dele é a relação continente/conteúdo. A partir do Modernismo tudo parece ser moderno, tudo parece estar incluso naquele “jeito novo de ver as coisas”, não apenas pelo caráter destruidor e construtor, respectivamente, assumido pelos modernistas, mas pela sugestão de finalização de um processo que a nomenclatura adotada sugere.
O “espírito de época” imediatamente subsequente ao Modernismo foi chamado, sem qualquer criatividade e confirmando a limitação imposta pela nomenclatura cronológica, de Pós-Modernismo. O que é muito lógico, o que vem depois do Modernismo é pós-moderno. Mas, em que sentido? O Pós-Modernismo não se caracteriza individualmente, precisa traçar um paralelo com seu estilo-origem? A fragmentação da Literatura, por exemplo, foi tão grande que não se pode agrupar mais, possibilitando uma unificação nominal? E, por isso, adotar um nome cronológico é mais simples?
O Pós-Modernismo no Brasil não sugere algo completamente independente, pelo contrário, inclina-se, às vezes, a uma continuidade do Modernismo, visto que se caracteriza ora por manifestações representando muitos passos adiante do Modernismo, ora representando um retrocesso. A prosa pós-modernista, por exemplo, aprofunda uma tendência já trilhada pela geração de 30, buscando uma literatura intimista, introspectiva. O regionalismo, também já iniciado, adquire novas dimensões, mas não chega a romper com “antigas tendências modernas”.
A Poesia Concreta, que também é pós-modernista – pois vem depois do Modernismo (Mais uma vez podemos perceber a ineficiência da nomenclatura cronológica.) – traz traços modernos visto que rompe com padrões, alguns dos quais, inclusive, já haviam sido alvo da geração de 22. O rompimento com o verso tradicional, por exemplo, foi uma questão bastante relevante para Oswald de Andrade. No entanto, somente com a Poesia Concreta é que revolucionou-se efetivamente o modo de construção da poesia. Seria, então, a Poesia Concreta o real amadurecimento dessa ideia? Sendo assim, a Poesia Concreta é Moderna, certo?
Por outro lado, a partir do momento em que o Concretismo pôs em prática, no grau mais elevado possível, essa ruptura com o verso tradicional, acabou por sugerir algo realmente novo (Ou moderno, olha aí o problema outra vez!), que é uma exigência da participação ativa do leitor no processo de construção da poesia. O leitor é co-autor do texto, já que este permite uma leitura múltipla.
Assim, numa comparação entre a produção dos autores modernos – de quaisquer épocas – , a dos autores pós-modernos e também a dos concretistas, podemos concluir que, depois do Modernismo, com toda aquela história de rupturas, novidades, choques e escândalos artísticos, nada mais deixou de ser moderno. Talvez pela infelicidade do nome, talvez pela força das inúmeras tendências sugeridas na década de 20 e amadurecidas cada uma em seu tempo, umas com Drummond na Segunda Geração, outras com Guimarães Rosa no Pós-Modernismo, e outras ainda com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, na Poesia Concreta.
Tamanha associação entre os estilo literários nos faz questionar até que ponto essa situação de amadurecimento das ideias lançadas em 22 será pertinente. Até quando? Pós-modernos, concretistas, praxistas, contemporâneos, serão todos uma extensão dos modernistas? Será o Modernismo, mesmo que renomeado, o estilo eterno?
Se aquela Literatura de 1922 era moderna, estamos fadados à prisão àqueles moldes? O Modernismo não é o grau máximo que algo pode atingir? Os autores, por exemplo, posteriores aos Andrades de 22, Drummond ou Vinícius de Moraes não são modernos?
A primeira relação que se pode traçar entre Modernismo e tudo o que vem depois dele é a relação continente/conteúdo. A partir do Modernismo tudo parece ser moderno, tudo parece estar incluso naquele “jeito novo de ver as coisas”, não apenas pelo caráter destruidor e construtor, respectivamente, assumido pelos modernistas, mas pela sugestão de finalização de um processo que a nomenclatura adotada sugere.
O “espírito de época” imediatamente subsequente ao Modernismo foi chamado, sem qualquer criatividade e confirmando a limitação imposta pela nomenclatura cronológica, de Pós-Modernismo. O que é muito lógico, o que vem depois do Modernismo é pós-moderno. Mas, em que sentido? O Pós-Modernismo não se caracteriza individualmente, precisa traçar um paralelo com seu estilo-origem? A fragmentação da Literatura, por exemplo, foi tão grande que não se pode agrupar mais, possibilitando uma unificação nominal? E, por isso, adotar um nome cronológico é mais simples?
O Pós-Modernismo no Brasil não sugere algo completamente independente, pelo contrário, inclina-se, às vezes, a uma continuidade do Modernismo, visto que se caracteriza ora por manifestações representando muitos passos adiante do Modernismo, ora representando um retrocesso. A prosa pós-modernista, por exemplo, aprofunda uma tendência já trilhada pela geração de 30, buscando uma literatura intimista, introspectiva. O regionalismo, também já iniciado, adquire novas dimensões, mas não chega a romper com “antigas tendências modernas”.
A Poesia Concreta, que também é pós-modernista – pois vem depois do Modernismo (Mais uma vez podemos perceber a ineficiência da nomenclatura cronológica.) – traz traços modernos visto que rompe com padrões, alguns dos quais, inclusive, já haviam sido alvo da geração de 22. O rompimento com o verso tradicional, por exemplo, foi uma questão bastante relevante para Oswald de Andrade. No entanto, somente com a Poesia Concreta é que revolucionou-se efetivamente o modo de construção da poesia. Seria, então, a Poesia Concreta o real amadurecimento dessa ideia? Sendo assim, a Poesia Concreta é Moderna, certo?
Por outro lado, a partir do momento em que o Concretismo pôs em prática, no grau mais elevado possível, essa ruptura com o verso tradicional, acabou por sugerir algo realmente novo (Ou moderno, olha aí o problema outra vez!), que é uma exigência da participação ativa do leitor no processo de construção da poesia. O leitor é co-autor do texto, já que este permite uma leitura múltipla.
Assim, numa comparação entre a produção dos autores modernos – de quaisquer épocas – , a dos autores pós-modernos e também a dos concretistas, podemos concluir que, depois do Modernismo, com toda aquela história de rupturas, novidades, choques e escândalos artísticos, nada mais deixou de ser moderno. Talvez pela infelicidade do nome, talvez pela força das inúmeras tendências sugeridas na década de 20 e amadurecidas cada uma em seu tempo, umas com Drummond na Segunda Geração, outras com Guimarães Rosa no Pós-Modernismo, e outras ainda com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, na Poesia Concreta.
Tamanha associação entre os estilo literários nos faz questionar até que ponto essa situação de amadurecimento das ideias lançadas em 22 será pertinente. Até quando? Pós-modernos, concretistas, praxistas, contemporâneos, serão todos uma extensão dos modernistas? Será o Modernismo, mesmo que renomeado, o estilo eterno?
Interessante...
ResponderExcluiragora cá fico eu com minhas perguntas...
será que este texto vai ter que vir sempre como apendice quando a palavra "modernismo" for citada daqui pra frente? rs
Parabens, filé!
Um abraço!
PS.: Aplausos!
Obrigada, filé! Fico feliz por seus elogios e pelos belos textos que você tem escrito no seu blog também... Parabéns!
ResponderExcluirBom texto... É uma preocupação que, creio, aflija muitos teóricos e candidatos a teóricos sobre o assunto.
ResponderExcluirO modernismo foi o primeiro movimento artístico que não se pretendeu limitar a arte em nenhum aspecto, admitindo múltiplas (se não infinitas. Daí, me lembro do GSV) possibilidades artísticas.
Talvez, daqui uns 30/40 anos, o distanciamento permita-nos definir melhor os desdobramentos daquele movimento, conceituando de outra maneira. Ou não...
Abraços