A quinta história chama-se “Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia”. Começa assim: queixei-me de baratas. E segue até o exato instante em que, vendo os monumentos de gesso, tenho certeza de que estão mortas. Porém, ao mesmo tempo, lembro-me de que estarão vivas nos canos da renovação, seguindo, em fila-indiana para novamente cumprir a saga. Assim, eu deveria mesmo renovar, ritualmente, aquele açúcar letal, todas as noites. E não conseguiria dormir enquanto não o fizesse. E mais que isso, estaria viciada em verificar a matança. Estremeci. Mas não de pensar no que primeiro me veio: que eu viveria, então, vida dupla, eu-mesma e eu-feiticeira, e sim de pensar que não há nada mais natural. Isso é o amor. Não, pensei, eu não estou louca. O amor é assim mesmo, duplo. Ambíguo. Alegórico, a melhor palavra. É por amor que ritualizamos as coisas: rezamos todas as noites por amor a Deus; por amor, passamos cremes e mais cremes antes de dormir. Senão por outra pessoa, por nós mesmos. É por amor que fazemos de nossas vidas dias cheios de ritos. De prece, de beleza, de sabedoria, de prazer... não importa de quê.
No entanto, como diria Leibnitz, a essência dos corpos não consiste na extensão, mas na força. Não eram importantes as baratas que transformei em estátuas, mas a força que me motivou o homicídio e que me faria me sentir melhor. E, pensando nelas, quem sabe não existe céu para as baratas? Aquelas, certamente, é para lá que vão, foram assassinadas fria e brutalmente, sem chance de defesa. Entretanto, não sou assassina, apenas alguém que ama mais a si mesma que às baratas. O ato sugere um assassinato, mas é uma forma de amor. A mim. E, otimistas, ainda como o filósofo, tudo vai da melhor forma no melhor dos mundos possíveis: no paraíso das baratinhas brutalmente assassinadas, elas descansam em paz, e eu, aqui em casa mesmo, apesar do rito, me alivio sem a presença delas.
Matar e amar. Matar por amor. Matar o amor?! Sim, penso, estou ficando louca. Matar alegoricamente. Filosoficamente amar. Era apenas uma forma de me livrar de baratas, sugestão de uma tal senhora que ouviu-me queixar, mas já estou quase resolvendo a questão da transcendência do amor na Polinésia...
Daniela Samira da Cruz Barros
Realmente muito coerente! Gostei desse final, sugerido pela autora. Amor... filosofia... transcendencia... meu Deus! Eram só baratas!rsrsrs...
ResponderExcluirAcho que tá aí o "x" da quextão! rsrs... O conto que nos faz a prestar atenção em simples baratas!
Parabens, Samira! (gostei muito mesmo de ler um conto teu) Já li a poesia... a crônica... agora o conto... só falta a música que você prometeu!rs...
beijooo
Parabéns, Daniela Samira, pelo texto, muito coerente, interpretou bem o texto A quinta história e desenvolveu bem a SUA quinta história.
ResponderExcluirValeu,
Noemi