quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ao mestre com carinho



Domingo de manhã. Já era tarde, mas eu ainda durmia. Fazia aquele friozinho bom pra ficar na cama. Meu celular tocou, era a Neiva, minha ex-professora de Latim, minha ex-chefe de departamento na UFJF, minha amiga Neiva... em pleno domingo, a Neiva me ligando? Mário Roberto. Ai, meu Deus! Meu professor! Não atendi. Deixei o celular tocar até ela desistir... tentei dormir de novo, relutando em saber o que houvera. Ansiosa que sou, não consegui. Levantei, dei de cara com a minha mãe na porta, contei a ela que a Neiva ligara. Ela estranhou. Contei também que eu sabia o que ela ia falar... minha mãe fez aquela pra mim! Confirmando que eu podia ter razão, ela não ligaria num domingo de manhã por um motivo qualquer. Desesperei-me. Eu não queria saber daquilo. Eu não queria aquela notícia na minha vida. Eu não queria acreditar que eu não o tinha visto mais uma vez. Pra contar sobre a minha conquista na Rural e sobre a minha inclusão no projeto da Patrícia... sempre fomos seguidoras do professor, eu e a Patrícia... No entanto, não consegui fazer nada, até ligar para a Neiva para confirmar minha suspeita. E ao atender o telefone, eu me identifiquei e ela disse, com sua voz tenra e delicada, "Perdemos o Mário...". Eu sabia, respondi. Eu sabia, Neiva, senti que era isso que você queria me dizer. Ela me deu ainda algumas explicações. E comecei minha preparação para o último encontro commeu mestre. Difícil. Muito difícil. Não consegui conter o choro. Chorei muito. Fui rever fotos, relembrar momentos, frases, brincadeiras... Ah, professor! Acho que você nunca soube da sua real importância na minha vida, na minha formação... Quando cheguei ao cemitério, não contive o choro nos ombros da Neiva... ah, que saudade vou sentir. Estive lá até o final. Rezei pelo bom católico professor. Presenciei discursos fúnebres como nunca vira. Emocionei-me com tudo que falaram. E até deste momento de despedida, o professor conseguiu impressionar-me quando o padre revelou a todos que por conta de um problema oftalmológico, o mestre já não lia pequenas letras como as da Bíblia, mas continuava fazendo leituras na igreja porque decorava os textos.
Professoor! Lembro-me da tua voz! Da tua imagem na última vez que te vi. Das histórias infinitas que tinhas. Do teu sorriso ao me entregar o diploma e do discurso em que nos tratou por "Vós". Lembro-me das gargalhadas. De você nos dizendo: "Habemos papam" quando Bento XVI foi eleito. Das broncas coletivas depois das provas de Português II. Lembro-me da tua cara de felicidade e espanto quando fizemos serenata no seu prédio para convidá-lo a ser nosso paraninfo. E nesses tempos de Copa do mundo, de suas histórias de futebol, sobre o Fluminense ou sobre a rivalidade com a Argentina... Meu professor querido! Ninguém foi capaz de perceber meu verdadeiro e puro amor por você... talvez nem você mesmo. Mas isso não o diminui. Descanse em paz!

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"Não, meu coração não é maior que o mundo, é muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores, por isso gosto tanto de me contar!" (CDA)